CORPO DE ILUSÕES
por Regilene Rodrigues Neves

Deixei de querer ver as minhas rugas
Envelhecendo a minha face
Na outra face do espelho
Outrora pujante de juventude
A flor da pele
A expelir desejos pelo meu corpo
Aquecido de sedução
Pela mocidade que jaz em mim agora...

Deixei de querer ver esse caminho
Que amadureceu as folhas do outono
Que outrora se fartou de primaveras
Até sentir que se passara uma era
Nos meus cabelos tingidos naturalmente
Pelo pratear efêmero dos meus anos...

Deixei de querer idolatrar a mim mesma
Para satisfazer o meu ego
De querer me ver na primeira pessoa
Enquanto lá fora sopram outros ventos
Que todo esse tempo deixei de sentir

Cultuando a minha própria infelicidade
Pois a beleza da minha vida
Não era o meu corpo
Que tantas e tantas vezes
Renunciara a felicidade ao meu lado
Para adorar uma imagem
Que derruíra ao longo das minhas ilusões
Causando-me somente sobra de desilusões...

Deixei de querer todas essas coisas
Pequenas e medíocres
Porque tenho uma alma que pondera
Sobre o meu corpo efêmero
E hoje me resgata
Para uma outra vida...

Que não precisa de um espelho
Para ver minha verdadeira face
Simplesmente de um ser humano ávido
Que tem a simplicidade da alegria
De um sorriso nos lábios
Pelas coisas meramente singelas e imperceptíveis,
Mas que me abraçam de verdadeiras completudes
Tornando a essência da minha beleza
Estampada na minha alma etérea...

Deixo para trás esse corpo
Que não me pertence
Porque tenho a eternidade ao meu lado
Esperando-me para ser feliz
Junto à liberdade que deixei de sentir
Prisioneira a efêmera imagem
Do meu corpo de ilusões...

Em 07 de novembro de 2008